sábado, 2 de abril de 2011

Entre Carros

          Ele estava lá. Embaixo do Minhocão, um velho branquelo. O que me chamou a atenção foi sua camiseta berrante, chamativa, como um líquido tóxico, uma camisa do Palmeiras verde-limão. Olhei rapidamente e não percebi nada estranho, apenas sua barriga protuberante por baixo das vestes. Quando parei para olhar melhor, vi que estava sem calças, usando apenas uma cueca samba-canção, ou um short muito parecido com uma. Os pés, calçados num tênis do tipo Restart com cano alto.
          Mas, no momento seguinte, um calafrio percorreu meu corpo: percebi que o velho andava sobre a mureta que dividia as duas mãos da General Olímpio da Silveira. Naquele espaço mínimo, de no máximo 20cm, não havia como ele se apoiar direito.
          Andava numa velocidade constante, pé ante pé, bambeando como um bêbado. Os carros passavam rapidamente ao seu lado, nas duas mãos da avenida, eu parada, na calçada oposta, esperando ver o que acontecia.
          Eis que ele bambeou mais ainda, e quase caiu de seu pedestal, mas um ônibus parou na minha frente nesse instante.
          Quando ele passou, o homem já estava do outro lado da rua, na calçada oposta, andando feliz, como se nada tivesse acontecido.

Um comentário:

  1. Já disse antes, repito agora: acho esse texto ótimo, principalmente pela temática cotidiana e pelo suspense criado no final.Bom!

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